Após o animo inspirador da recepcionista na chegada de Iquique fomos jantar e voltamos ao apartamento.
O dia seguinte seria tranqüilo em termos de km, mas não em diversão.
Começamos dando uma volta a pé na cidade. Iquique é uma cidade praiana ao norte do Chile. As praias do Chile ao norte são frias e muito diferentes do que vemos no Brasil.
Findado este pequeno passeio pela orla e pelo centro histórico decidimos ir a Zofri (Zona Duty Free) de Iquique. Os produtos são em média 30-40% mais caros que os preços dos States e cerca de 40% mais barato que o Brasil, mas vc realmente tem que gostar de Casio, Samsung e uma ou duas marcas que eu não me lembro.
Após garimparmos bastante saímos com umas coisas na sacola. Entretanto, já era tarde, após as 12hs, e pegar a estrada com mais 400km à frente não era boa idéia. Optamos por ficar um dia mais.
Após discutirmos a idéia chegamos a conclusão que não precisaríamos voltar ao hotel.
Fiquei apreensivo e após ouvir:
- O que eles podem fazer? Colocar nossas coisas na rua?
Afinal, atrasaremos apenas 1 hora do horário inicialmente proposto.
Continuamos no incrível Zofri até as 4hs e seguimos para o almoço. No caminho, paramos no hotel para deixar as coisas e surpresa: Havíamos sido despejados. Nossas coisas estavam em sacos pretos em uma sala abaixo da recepção do hotel. Hahahaah.
Fato: fomos despejados!
A confusão estava armada! Muitas razões e vamos llamar la policia.
"Usted no tenia el derecho de poner nuestras coisas en la calle."
Após muita conversa e confusão o recepcionista disse:
-Escucha, hoy es lo primer dia de trabajo despues de mi vacaciones.
O couro comeu de novo e finalmente conseguimos um novo apartamento com desconto de 30% e fomos jantar.
A janta foi outra epopéia. Primeiro que a indicação do restaurante ficaria na parte nobre da cidade e quando lá chegamos, o restaurante era nada mais que um boteco daqueles.
Entramos, mas foi aquela situação que ninguém diz ao outro que não topava o lugar.
Ficamos e começamos a tomar umas e outras.
A briga se estabeleceu entre quem resistiria ao banheiro, pois sabíamos que se o baño fosse ruim, a cozinha seria um pedaço do inferno: "Hell's Kitchen".
O restaurante era tão bom que houve uma troca de turno de garçons e por conta disto ficamos à ver navios durante uns 20min.
O substituto apareceu e então pedimos os pratos.
Pasmem:
O Chiquito mandou voltar o peixe, afirmando categoricamente que o peixe pedido não era o servido.
E não é que o peixe era outro mesmo!
O garçom fez outro que parecia ser o certo, mas ainda sim estava horrível.
Isto aconteceu depois das idas ao banheiro o que dificultou ainda mais engolir a comida.
Sem mencionar que eu pude ver um inseto que as mulheres odeiam logo ao lado da mesa.
Bom, acabou o jantar e fomos embora.
Dia seguinte todos prontos pra sair, as 5 da madruga e lá vem a boa noticia: O Chiquito esqueceu um pacote no Rubaiar Chileno. Tivemos que esperar o lugar abrir às 11 da manhã para podermos sair.
Goodbye Iquique e a paisagem árida surge novamente.
Fiquei pensando como há tantas pessoas moram ali, pois a situação não parecia ser nada boa. A sensação que tive no ambiente é que estava num grande redemoinho de areia.
Depois de Iquique viria a fronteira Peruana, cruzarmos parte do Atacama de novo e não vou repetir que as paisagens blablabla. (Faça a viagem).
Fato curioso é que em alguns trechos da estrada há uma montoeira de lixo proveniente dos carros e caminhões.
Chegamos ao Peru e dentre todos os postos de fronteira este era o melhor. O mais apresentável sem nenhuma dúvida.
Saindo do Chile parecia que estávamos na Bolívia devido ao biotipo das pessoas. Percebemos há um certo tempo que todas estas pessoas pertencem a população Andina. É impressionante como são parecidas.
Chegamos ao Peru e dormimos em Tacna em um hotel de luxo, dos anos 70. Agora, havia restado apenas a criação de colônia de ácaros e bolor. Não se assustem, era o melhor da cidade.
Na entrada do Hotel encontramos um Peruano que fez mestrado e doutorado no Brasil, Unicamp, e nos reforçou a indicação do hotel.
O Peru é do Peru. O trânsito é inacreditavelmente caótico e harmonioso ao mesmo tempo.
Sei, sei, como assim?
Simples, a buzina come solta.
-Passou um mosquito: Buzina.
-Aproximou-se um carro: Buzina.
-O farol está verde: Buzina.
-O farol vermelho: Buzina.
Entretanto, não há batidas. Creio que as buzinas significam:
-Opa... estou na área.
O quarto era engraçado, o encanamento era uma fonte de água, pois vazava por todos os lados.
Agora, infra a parte, o Peruano é gente boa. Hospitaleiro e simpático. Os caras se desdobram para ajudar. A impressão foi ótima e inacreditavelmente o Fugimori é adorado aqui.
Toyota domina o mercado de automóveis. Existe um convênio com o Japão e os carros são Tax Free.
O Chile tem com a Coréia, logo Kia e Hiunday.
O Brasil com o governo, vc paga 80% de imposto em qq um e alegra-se em pagar o triplo e levar a metade.
Seguimos em direção a Puno, margem do lago Titicaca, apelidado como Tic Tac pelo Costa.
Começamos a subir à altitudes que eu nunca tinha ido antes, 4700 mts de altura e subindo....
No caminho, mais uma vez parcialmente perdidos, perguntei para alguns trabalhadores qual seria a estrada para Puno e nos foi indicada uma estrada que estava zerada, linda e cheia de curvas, o grupo ficou em dúvida devido ao GPS indicar outro caminho ( o velho GPS ), mas toquei o pau ali mesmo e o povo me seguiu. E dá-lhe subida ....subida.....subida .....até chegarmos ao topo de mais um conjunto de montanhas.... inacreditável o cenário...tem que ir pra ver.
Tivemos que parar para colocar a capa de chuva e acabamos por conversar com um trabalhador que estava por ali e nos avisou que chovia há mais de uma semana em Machu-Pichu. Pensamos que podíamos reviver o que passou o ano passado onde as pessoas ficaram isolados devido as chuvas, mas "the show must go on"....
Colocamos a capa de chuva e ficava cada vez mais difícil de respirar....estava completamente zonzo, a sensação de falta de ar é esquisita e sem dúvida nunca mais irei chamar um jogador de futebol de preguiçoso ao vê-los jogar em La Paz, Quito e etc ....
Quando fomos aproximando de outro conjunto de montanhas a situação literalmente "empreteceu" a chuva, a estrada e o clima.
De repente, quando fizemos uma das curvas: "Neve! Das bravas !". Não pude acreditar no que vi, era neve mesmo e um palmo de neve, não era aqueles floquinhos que vimos em Bariloche o ano passado e era assustador.
Eu era o segundo da fila, tendo na minha frente o Afrânio, Chiquito e Costa seguiam logo atrás de mim. Pra minha sorte, eu estava atrás de um baita caminhão de ia abrindo uma trilha na neve e eu nem sonhava em sair daquele rastro.
O Afrânio saiu do trilho e foi para a direita e parou a moto, eu continuei e já não via mais o Costa e Chiquito.
O negócio estava ficando emocionante, o Scala Rider pra variar não funcionou quando precisamos, continuei mudo sem saber o que estava acontecendo. Segui o caminhão mais 1 ou 2 km em cima do rastro deixado por ele e a neve caindo.
Mais á frente, o caminhão parou e eu parei de tabela, fiquei apreensivo no começo mas depois aproveitei pra tirar umas fotos né......aguardei um ano este momento já que no ano passado não tive a chance...
Logo em seguida chegaram o Costa e o Chiquito. Fui até eles e perguntei onde estava o Afrânio e a resposta foi chocante: "Ele ficou"...
Neste momento bateu um momento de pânico, pois não sabíamos como o ajudaríamos naquela situação. O Chiquito gritava pra que o sujeito puxasse o caminhão e eu tentei dizer a mesma coisa em espanhol e confesso que foi inútil. Decidimos então seguir até uma parte que estivesse segura na estrada e aí voltaríamos para ajudar o Afrânio.
Prosseguimos com o plano, dexiamos o Chiquito no pé da estrada ao lado de um telefone e voltamos, Costa e Eu, para ajudar o Afrânio.
Voltando para o pico da montanha e pensando como seria ferro caso nos acontecesse algo vimos o Afrânio descendo a estrada são e salvo..ufa .....ele nem parou e continou descendo enquanto eu e o Costa fizemos a manobra para descer também. Deu tudo certo ....e aí está as fotos de como estava o Afrânio:
Somente quando nos encontramos entendemos o que passou ( carajo ). Quando ele saiu do trilho do caminhão teve que parar porque a neve estava muito espessa, na tentativa de sair de novo a moto derrapou e foi para o chão. Bom, tudo bem, baita emoção e aventura, mas a viagem continua ....
No caminho da cidade descobrimos um furo no pneu do Chiquito. A moto apitou, mostrou alarme, só faltou gritar: Estou com medo!
Chegamos em Puno e começou aquela buzinação alucinada. Entramos no esquema e da-lhe buzinar. Por nada, tocamos a buzina também.
Deixamos as coisas no hotel na Plaza de Armas que por sinal era excelente nas instalações e no atendimento do staff.
Fomos buscar um borracheiro, na Argentina seria Gomeria, no Chile não sei e no Peru, só Deus sabia e eu, muito menos.
Rodamos a cidade toda para achar um e não achamos.
Meu espanhol que já é de qualidade duvidável ficou ainda pior quando descobri que eles falavam um do dialeto local.
Meu Deus, que zona era aquilo. Buzina, cachorro, feira livre no meio da avenida e o povo andino que aos meus olhos são todos muitíssimo parecidos, espalhados por todo lugar.
Vi algo que mataria um alemão só em entender o que se passava ali. Havia alguns guardas de trânsito "organizando o trafego". A lógica é simples:
Mantenha os carros, animais e moto-taxis andando a qq custo.
Eles apitam, apontam e mandam andar, em todos os sentidos e direções. Imagine isto agora, mais a buzina, os moto-taxis, os cachorros, os carros e etc...
Em Puno, as casas não são rebocadas e a cor das paredes se confundem com as montanhas ao fundo. A cor seria algo como a cor de argila (daltônico... né), a descrição é a mais próxima que achei.
As pessoas parecem muito sofridas. Nas ruas vc vê em sua grande maioria as mulheres trabalhando. Elas usam um chapéu típico da região andina, chale, saia e uma espécie de sacola nas costas que serve para tudo, carregar bebês, carga, flores, comida e etc.
Achei interessante que nas ruas existem muito ambulantes e as mulheres ficam sentadas nas calçadas com o conjunto de chapéu, chale, saia, mais sua posição, isto termina por reproduzir uma mini oca, isso mesmo, uma oca.
O cheiro é muito forte, cheiro de gente impregnado no ar. Muitas pessoas concentradas no mesmo lugar.
Voltando ao gomeiro, borracheiro e finalmente llanteria. Demoramos mais de duas horas rodando na cidade atrás de um e de outro. Conhecemos mecânicos de bestas, kias, motos, coches, autobus, menos borracheiro.
Em uma última tentativa, achamos um. O cara olhou pra moto e disse que não mexeria.
Não pude deixar de notar que o sujeito dava ordens de dentro da borracharia para sua mulher que carregava a roda com o pneu reparado para o veículo, não posso chamar aquilo de carro. Me pareceu que as mulheres andinas trabalham mais que os homens, mas é só uma impressão.
O Chiquito entrou em pânico e disse que não era para tirar a roda e não precisava trocar então.
Visualize toda esta descrição e uma GS Adventure branca com dois sujeitos em cima. Isso mesmo, deixei minha moto na garagem e fui procurar o borracheiro na garupa do Chiquito, e às vezes, ele na minha. Em suma, uma experiência horrorosa.
Voltando ao hotel fui tomar banho e percebi que estava sentindo uma dor de cabeça imensa, vontade de vomitar, tontura e moleza. Pois é, era o mal da altitude. Estávamos a 4200m de altura e rodamos o dia todo nesta altura. Não conseguia nem comer, mas só fui descobrir isto depois que eu tomei uma cápsula santa fornecida pela recepcionista do hotel. O nome da pílula é Sorojcheps.
No dia seguinte, o Chiquito acordou com os mesmos sintomas. Dá-lhe Sorojcheps.
Vamos conhecer o lago Tic Tac, ou Titicaca, ou Quecaca.
O dito cujo, é o maior lago de água doce do mundo e está na divisa com o Peru e Bolívia.
Fomos no barquinho para visitar o Povo de Uros. Mas, que diabos é o Povo de Uros?
O Povo de Uros é uma das três raças da região que vive dentro do lago TicTac em ilhas flutuantes. Estas ilhas são feitas de raízes de alguma planta que eu não sei o nome. Estas pessoas eram refugiadas dos Inkas, Inkas Venezianos inimigos do Nationalo Kido (coisa do Costa), e que para se protegerem se instalaram dentro do lago.
Bom, nosso guia era um Boliviano Típico com bigode de Chinês, uma cara de pinguço e alguns casos no mínimo curiosos:
-Os gatos em Uros mergulham e nadam.
-As crianças aprendem a nadar antes de andar.
-As vacas voam.
-O povo de Uros ainda moram naquelas ilhas.
O passeio foi legal e mais legal ainda foi ver as pessoas de Uros acenando quando vc passava.
Pareciam PlayMobil. Todos iguaizinhos e falando Kamisaraki, kamisaraki.
Vc usa Kamisaraki para:
Bom dia;
Boa tarde;
Boa noite (conforme a ocasião).
Quando vc desembarca na Ilhota, vc visita suas casas, a estrutura da ilhota e claro que é quase coagido a comprar alguma coisa. O guia havia nos dito que as famílias compartilhavam as vendas e etc, portanto não importava de quem vc comprava.
Assim como o gato que nada, a vaca que voa, a criança-peixe, isto era uma lenda. Quando eu, Costa e Chiquito ameaçamos sair da casa deles (só se eles morassem numa barraca de feira-hippie) os playmobils ficaram bravos e tentaram nos convencer a comprar aqueles artesenatos (tristes de feios na minha opinião).
No geral foi legal saber e ver que existiu/existe um povo que mora ou morou daquele jeito.
Acabou o passeio no Lego Titicaca e tocamos para o objetivo principal:
Machu-Pichu.