Deixamos a cidade Diesel para trás. Me refiro a Cuzco. As cidades peruanas possuem um cheiro insuportável de diesel devido aos carros, vans e caminhões que são em sua maioria a diesel e sem ajuste algum no motor. Por isso o cheiro forte e abundante na cidade.
Nosso destino era Puerto Maldonado, cerca de 430km de Cuzco e iríamos pela Inter-oceânica.
Tivemos que voltar um pouco na estrada que havíamos seguido de Puno a Cuzco, pois a saída estava à alguns kms de Cuzco. Para quem não nos conhece, na foto abaixo podemos ver da esquerda pra direita : Afrânio, Costa, Chiquito e Hachide.
Bom, veríamos o que nos esperava neste trecho. Pouco antes de sair recebíamos informações sobre a passagem de pequenos rios, trechos de barro, cascalho, pontes mal acabadas e etc. Apesar de termos motores de 100cv em cada moto, não seria fácil, pois como diria o comercial da Pirelli : Potência não é nada sem controle ! haaha.
Tocamos o barco e mais uma vez fomos agraciados pela paisagem, uma vez mais repito que os amantes de motocicletas devem fazer este trecho. O visual é inesquecível e o contraste que vemos saindo das cidades para as cidades do campo é simplesmente incrível.
A viagem correu bem e não tivemos nenhum contra-tempo. A surpresa mesmo ficou em sair de uma paisagem fria e árida para a entrada na Amazônia Peruana. Comparativamente é como sair de um abiente temático e entrar em outro. De repente, quando chegamos perto do nível do mar, a paisagem se transforma por completo. A temperatura finalmente sai dos constantes 8 a 14 graus para os 35. Só se vê verde e uma vegetação densa em torno da estrada, que é um convite a virar o cabo, sem trânsito, o asfalto novíssimo e em perfeito estado.
A estrada está ótima e ainda possui alguns trechos de cascalho bem batido onde se necessita cuidado mas é totalmente transitável com qualquer estilo de moto; menos speed é claro.
Falta alguns trechos para serem acabados mas nada demais, acredito que mais 30 ou 60 dias estará tudo pronto. A surpresa ficou por conta de sabermos que toda a obra foi paga pelo governo brasileiro via convênio Internacional com a unica exigência de que fosse construída por empresas brasileiras, Camargo Correa neste caso. Tire suas conclusões.
Curioso é que fora do país parece que a qualidade é muito superior as que constroem aqui. Existe uma quantidade impressionante de pessoas que cuidam da estrada, parece praticamente uma indústria para a população local. Uma ressalva, não esqueça de encher o tanque e observar a autonomia das motos antes ingressar nela.
Seguimos alguns kms ( 200 - 300km, em uma viagem de 10000km , 200 - 300 é como uma volta no quarteirão ) e começamos observar algumas comunidades no meio da selva, onde podíamos ver alguns clarões na mata, muitas pessoas circulando em torno da estrada e uma infinidade de motos também, motores a diesel para serem reparados, assim como tanques de combustíveis e etc. Ficamos pensando que diabos era aquilo, as motos não tinham placas, as pessoas tomando banhos nos rios da região que eram vistos da estrada onde circulávamos.
Depois fiquei sabendo o que o Chiquito pensou : "Nossa, eles retiram areia daqui para vender ....."
Alguns instantes depois, o Afrânio me chama no rádio e diz:
-Hachide, você viu que isto é uma zona de garimpo ?
Nossa, garimpo ???? Que diabos .....
A região era cruel ( feia ) e algumas coisas passaram a se encaixar, os tanques e motores de diesel, as ilhas de areia, as motos sem placa e etc .....
Não fiquei preocupado à princípio, mas temi pelo Chiquito, pois ele podia a qualquer momento parar para comprar uma manga, água ou simplesmente pedir informação para verificar se o GPS dele estava certo ( o que seria algo inusitado e inédito ).
Elucubramos o quanto seria exótico ter 4 GSs naquele lugar .....
Seguimos sem problemas, mas deixamos todos do grupo avisados sobre a área.
Enfim, chegamos à Puerto Maldonado. Não esperando nada demais é claro. A cidade parece uma cidade do velho-oeste dos filmes. Aquela poeira subindo, grande parte das ruas sem asfalto e somente chão batido. Um zilhão de motos circulando pra cima e pra baixo naquele trânsito caótico do Peru. Paramos pra abastecer , com um calor escaldante, escaldante mesmo, e já mandamos a clássica:
-Donde estás lo mejor hotel de la ciudad ?
Não queríamos luxo, mas pelo naipe da cidade o dito hotel devia ser mais ou menos aceitável.
Recebemos a indicação de onde seria o tal hotel onde ficariam os ministros que visitavam Puerto Maldonado. Chegamos no hotel Kinta, bom hotel, preço razoável e boas instalações. Entretanto, suponho que os "ministros" não compartilhavam a mesma opinião.
Tomamos um banho e ficamos no hotel mesmo, tomamos uma Cusqueña a 13 graus, pois o freezer não gelava mais que isto e jantamos por lá. No dia seguinte, o Chiquito enfrentaria um dos seus desafios pessoais o rio : La Madre de Dios ...
Já o Afrânio, em suas próprias palavras , definiu este trecho como segue:
[...] Hoje meus amigos mostraram que são bons motoqueiros, pois havia milhares de curvas, sol e neve nos picos. Estivemos a 4725 mts com calor de 35 e frio de 2 graus, asfalto novo, poeira, pedregulho,ponte só com linha para o pneu e mais milhares de curvas. Descemos para 200 mts estrada de terra com pedregulho, zona de garimpo para passar ,chuva e enfim chegamos a Puerto Maldonado após 530 km. ( BUENO, AFRÂNIO; 2010 )
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